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Faz sentido esse otimismo com a economia brasileira?

Artigo
09/01/2024 14:30
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searchSávio Bertochi Caçador*

Faz sentido esse otimismo com a economia brasileira? Em edição recente a revista britânica “The Economist” publicou artigo enaltecendo o sentimento mais otimista de investidores estrangeiros com o Brasil. A revista destacou que a economia global reúne circunstâncias favoráveis ao Brasil, mas também menciona medidas de ajuste promovidas pelo governo: a revista cita a reforma tributária e o arcabouço fiscal, ambas medidas em tramitação no Congresso Nacional, mas com grandes chances de aprovação ainda este ano.

Vamos aos fatos!


O primeiro ponto que chamamos atenção é o PIB. Cabe lembrar que as projeções do PIB brasileiro no começo do ano circulavam em torno de pífio 1%. Depois do excelente desempenho do agronegócio no 1º trimestre e com os avanços do marco fiscal e da reforma tributária a expectativa nesse momento é que o Brasil encerre 2023 com um PIB de 2,26%. Ainda está aquém do potencial do país, mas é uma expectativa bem melhor.

No que tange à inflação, o IPCA mostrou inflação de 0,12% em julho após a deflação de 0,08% em junho. Em 2023, a alta acumulada do IPCA está em 2,99%. Já nos últimos 12 meses, o índice é de 3,99%, acima do centro da meta de inflação, que é 3,25%. Contudo, uma alta em julho já era esperada pelo mercado que aposta que a inflação continuará caindo e reforçando a ideia de um ciclo de cortes na Selic.

A taxa Selic foi reduzida em 02 de agosto para 13,25% a.a., o primeiro recuo desde agosto de 2020. Boa parte dos analistas de mercado acredita que o ciclo flexibilização monetária ocorrerá de forma gradual, com reduções de mesma magnitude (0,50 pontos percentuais) nas próximas reuniões, o que deve levar a Selic para patamar equivalente a 11,75% a.a. no fim do ano. Contudo, se a economia não voltar a crescer pelo lado da oferta veremos a inflação voltar mais a frente (sobretudo de serviços), o que exigirá novo ciclo de alta dos juros.

A agência de classificação de risco de crédito Fitch Ratings elevou a nota soberana do Brasil de BB- para BB, com perspectiva estável. A elevação reflete o desempenho macroeconômico e fiscal acima do esperado, políticas proativas e as reformas realizadas nos últimos anos.

Após atingir patamar ao redor de R$ 5,30 no final de março, observamos uma trajetória de queda do câmbio para níveis próximos a R$ 4,70 em meados de julho. O mercado já estava projetando valor de equilíbrio do câmbio a R$ 4,50 quando a Fitch, no início de agosto, rebaixou a nota dos Estados Unidos pela primeira vez desde 2011 em função da situação fiscal e previsão de recessão por lá, o que tem feito o câmbio voltar para o patamar de R$ 4,90. De qualquer forma, é bem menos que os R$ 5,30 atingido em março, o que também tem contribuído para redução da inflação.

O projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA) deve ser enviado ao Congresso Nacional até o dia 31 de agosto e deve ser acompanhado de um conjunto de medidas para elevar a receita do governo. A lista de propostas incluiria a regulamentação do mercado de apostas esportivas e a tributação de fundos exclusivos e fundos offshore. São ações cujo resultado esperado é a redução do déficit nas contas públicas pelo lado da elevação da receita, ou seja, mais tributação, e não pelo lado da redução de despesa, o que é mais desejável.

Tudo nos leva a crer que o Brasil vai engrenar de novo e sua economia deslanchará. No entanto, a história brasileira sugere que esse otimismo deve ser moderado.

Para começar, o sucesso da reforma tributária e do quadro fiscal não está garantido. Além disso, o país acumula um conjunto de deficiências em sua infraestrutura que precisam ser tratadas e que sem isso teremos mais um “voo de galinha”. Portanto, não podemos nos iludir com as boas notícias de curto prazo e achar que está tudo resolvido, pois o Brasil ainda tem muito dever de casa para fazer.

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*Artigo de Sávio Bertochi Caçador, Diretor de Riscos, Administração e Finanças do Bandes e Mestre em Economia pela UFES