A taxa SELIC caiu, e daí?
Artigo
05/01/2024 16:00
O lado bom dessa história é que essa queda da Selic possibilitará a redução do endividamento das famílias, das empresas e do setor público ao diminuir o custo de dívida. Ela também permitirá uma diminuição das taxas de juros praticadas no mercado de crédito.
Mas essa redução da Selic trará mais crescimento? No curto prazo os juros têm efeito sobre a demanda e isso pode impulsionar o aumento do crédito para consumo e aquisição de imóveis, por exemplo. Contudo, isso dependerá do resultado do Desenrola, programa do governo federal para renegociação de dívidas das famílias.
Mas no longo prazo o crescimento econômico vem do aumento da produtividade. A redução dos juros, por si só, não estimula o aumento do investimento, componente fundamental para aumento da produtividade.
Outros fatores como ambiente institucional, infraestrutura, qualificação da força de trabalho etc., também são importantes para o aumento da produtividade e, portanto, do crescimento econômico de forma sustentável.O crescimento baixo no Brasil é um fenômeno de oferta agregada, e não de demanda agregada, e aumentar a demanda porque se quer mais crescimento pode produzir mais inflação.
O fato é que o governo federal enviou ao Congresso projeto de lei com política para reajuste do salário mínimo. A proposta prevê que cálculo para reajuste leve em consideração INPC e crescimento do PIB, segundo o Ministério do Trabalho. Se aprovada, medida passa a valer em 2024.
A questão relevante nesse ponto é que a produtividade é baixa no Brasil e, se a proposta é inflar os salários, o custo unitário do trabalho aumenta e a inflação de serviços não cede. E daí será necessário outro ciclo de alta da Selic.
Portanto, esse ciclo de queda da Selic não garantirá o tão desejado crescimento econômico. Ele é um bom sinal, e só. Para que o Brasil volte a crescer de forma sustentável é preciso aumentar a produtividade com reformas estruturais, aumento do investimento, melhoria da infraestrutura etc.
*Artigo de Sávio Bertochi Caçador, Diretor de Administração e Finanças do Bandes e Mestre em Economia pela UFES
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