A economia do Espírito Santo é dependente de commodities?
Artigo
21/12/2023 17:00
Em outubro deste ano a UNCTAD, sigla em inglês para Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, publicou um estudo muito interessante sobre a dependência de commodities dos 195 países membros da ONU (Commodity dependence: 5 things you need to know | UNCTAD). A UNCTAD entende que a economia de um país é dependente de commodity quando 60% ou mais do valor de suas exportações é composta por esse tipo de produto. Nesse contexto, 95 nações são dependentes de commodities, sendo que apenas 13% das nações desenvolvidas como, por exemplo, Austrália e Noruega, se encaixam nessa classificação, e 85% das nações em desenvolvimento, como Brasil e Argentina, se enquadram nesse critério.
Um ponto relevante que esse estudo da UNCTAD aponta é que essa dependência de commodities tem profundas implicações para o desenvolvimento econômico desses países. O primeiro ponto é que essa dependência está correlacionada ao menor bem-estar humano: em 2021, 29 dos 32 países com pontuações baixas de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dependiam de commodities. O segundo ponto é que isso afeta o desempenho econômico e expõe países e regiões a choques: os países dependentes de commodities enfrentam frequentemente questões como baixa produtividade, volatilidade da renda, taxas de câmbio sobrevalorizadas e o aumento da instabilidade econômica e política. O terceiro ponto é que torna os países mais vulneráveis a mudanças climáticas: os países em desenvolvimento dependentes de commodities representam uns impressionantes 95% dos 20 países mais vulneráveis às alterações climáticas. É difícil, mas não é impossível romper essa dependência de commodities, vide o exemplo da Costa Rica que passou de exportadora de banana e café para exportadora de serviços e instrumentos médicos.
Agora vamos transportar esses elementos para a economia capixaba. O modelo de desenvolvimento econômico adotado no Espírito Santo a partir dos anos 1960 mudou estruturalmente o Estado. Passamos de uma economia agrário-exportadora para uma economia urbano-industrial. Mas a industrialização tardia pela qual passou o Espírito Santo teve uma característica marcante: uma participação relevante de produção de commodities. Até os anos 1960 o Estado tinha o café, uma commodity, como seu principal produto e a partir daí outras commodities foram agregadas à pauta de exportação local: minério de ferro, aço, pasta de celulose e petróleo. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) de 2022, 81% da pauta de exportação capixaba é de commodities. Ou seja, a economia capixaba é altamente dependente.
Um estudo feito em 2011 (acesse aqui) retratou bem os efeitos dessa elevada dependência das commodities para a economia capixaba: (1) por conta de seu alto grau de abertura econômica, o Estado sente mais intensamente os impactos de choques nos preços do que o Brasil e outros estados; (2) os preços exercem um padrão de precedência temporal sobre os níveis de atividade estadual e nacional; (3) um choque positivo nos preços faz com que o nível de atividade estadual aumente inicialmente, sofrendo uma contração em seguida, para então apresentar um aumento permanente em relação a seu nível original no longo prazo; (4) os impactos quantitativos de choques nos preços são maiores no caso estadual do que no caso nacional.
É bem verdade que o Espírito Santo alcançou o atual nível de desenvolvimento econômico graças, em boa parte, à produção das commodities. Mas essa dependência não garante um futuro mais promissor para o desenvolvimento sustentável capixaba, até porque commodities como minério de ferro e petróleo tem prazo de validade determinado. Por isso, a estratégia de desenvolvimento econômico estadual deve continuar pautada pela diversificação de base produtiva, trilhando o caminho do aumento da sua complexidade econômica e da baixa emissão de carbono.
*Artigo de Sávio Bertochi Caçador, Diretor de Riscos, Administração e Finanças do Bandes
Um ponto relevante que esse estudo da UNCTAD aponta é que essa dependência de commodities tem profundas implicações para o desenvolvimento econômico desses países. O primeiro ponto é que essa dependência está correlacionada ao menor bem-estar humano: em 2021, 29 dos 32 países com pontuações baixas de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dependiam de commodities. O segundo ponto é que isso afeta o desempenho econômico e expõe países e regiões a choques: os países dependentes de commodities enfrentam frequentemente questões como baixa produtividade, volatilidade da renda, taxas de câmbio sobrevalorizadas e o aumento da instabilidade econômica e política. O terceiro ponto é que torna os países mais vulneráveis a mudanças climáticas: os países em desenvolvimento dependentes de commodities representam uns impressionantes 95% dos 20 países mais vulneráveis às alterações climáticas. É difícil, mas não é impossível romper essa dependência de commodities, vide o exemplo da Costa Rica que passou de exportadora de banana e café para exportadora de serviços e instrumentos médicos.
Agora vamos transportar esses elementos para a economia capixaba. O modelo de desenvolvimento econômico adotado no Espírito Santo a partir dos anos 1960 mudou estruturalmente o Estado. Passamos de uma economia agrário-exportadora para uma economia urbano-industrial. Mas a industrialização tardia pela qual passou o Espírito Santo teve uma característica marcante: uma participação relevante de produção de commodities. Até os anos 1960 o Estado tinha o café, uma commodity, como seu principal produto e a partir daí outras commodities foram agregadas à pauta de exportação local: minério de ferro, aço, pasta de celulose e petróleo. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) de 2022, 81% da pauta de exportação capixaba é de commodities. Ou seja, a economia capixaba é altamente dependente.
Um estudo feito em 2011 (acesse aqui) retratou bem os efeitos dessa elevada dependência das commodities para a economia capixaba: (1) por conta de seu alto grau de abertura econômica, o Estado sente mais intensamente os impactos de choques nos preços do que o Brasil e outros estados; (2) os preços exercem um padrão de precedência temporal sobre os níveis de atividade estadual e nacional; (3) um choque positivo nos preços faz com que o nível de atividade estadual aumente inicialmente, sofrendo uma contração em seguida, para então apresentar um aumento permanente em relação a seu nível original no longo prazo; (4) os impactos quantitativos de choques nos preços são maiores no caso estadual do que no caso nacional.
É bem verdade que o Espírito Santo alcançou o atual nível de desenvolvimento econômico graças, em boa parte, à produção das commodities. Mas essa dependência não garante um futuro mais promissor para o desenvolvimento sustentável capixaba, até porque commodities como minério de ferro e petróleo tem prazo de validade determinado. Por isso, a estratégia de desenvolvimento econômico estadual deve continuar pautada pela diversificação de base produtiva, trilhando o caminho do aumento da sua complexidade econômica e da baixa emissão de carbono.
*Artigo de Sávio Bertochi Caçador, Diretor de Riscos, Administração e Finanças do Bandes